Por que uma assinatura gera tanta discórdia na CBF e alimenta oposição

(UOL/FOLHAPRESS) - Traços a caneta viraram um motivo de discórdia para tumultuar os bastidores da CBF. Afinal, o Coronel Nunes assinou mesmo o acordo que encerrou uma disputa jurídica sobre a eleição de Ednaldo Rodrigues?
Quem vai tirar essa dúvida, por determinação do ministro Gilmar Mendes, do STF, é o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Foi lá que a celeuma jurídica começou. É lá o próximo palco da discussão. Os opositores do atual presidente da entidade estão em polvorosa.
O documento em questão tem a data de 24 de janeiro de 2025. Por ordem alfabética, a primeira assinatura é a que rendeu polêmica: Antônio Carlos Nunes de Lima.
Além dele, Castellar Neto, Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Adriano Aro (presidente da Federação Mineira) e o próprio Ednaldo Rodrigues (em nome da CBF) assinaram.
PARA QUE SERVE O DOCUMENTO
O documento é importante porque as partes reconhecem a validade da eleição de 2022, no processo que gerou o afastamento de Ednaldo em dezembro de 2023. O acordo, então, traria uma suposta calmaria ao ambiente político da CBF. Só que isso não durou cinco meses.
Quais os elementos trazidos para gerar dúvida de que Nunes, um octogenário ex-presidente da CBF, foi mesmo um dos signatários? Para começar, o estado de saúde dele.
O Coronel passou por uma cirurgia séria durante tratamento de câncer no cérebro.
Em 19 de junho de 2023, Jorge Pagura, médico que fez o procedimento e cuida do Coronel, fez um relatório no qual reportou "déficit cognitivo" no dirigente. Pagura ainda trabalha na CBF, como presidente da comissão médica.
O laudo passou a circular porque foi inserido em um processo na Justiça do Pará, no qual Nunes tentava interromper descontos de pensão da aposentadoria que recebe.
O relatório foi o primeiro elemento trazido na discussão atual sobre a assinatura do Coronel.
Na petição de Fernando Sarney, um dos vices da CBF que pediu afastamento de Ednaldo da CBF, mais um documento da mesma época: uma procuração assinada pelo Coronel dando poderes a outra pessoa para gerir sua conta bancária.
A escrevente do cartório até foi ao encontro do Coronel porque ele estava "impossibilitado de comparecer" ao órgão. A procuração tem tanto a assinatura por extenso quanto a rubrica do Coronel.
E A PERÍCIA?
Depois disso, veio um elemento controverso. Um parecer técnico de uma perita contratada pelo vereador carioca Marcos Dias (Podemos).
A empresa é de Jacqueline Tirotti. A conclusão dela é "impossibilidade de vinculação do punho" ao Coronel Nunes.
A perita citou "divergências em relação aos padrões apresentados, conforme demonstrado no exame, bem como, ressaltando a fragilidade do documento questionado, em razão da ausência de grampeamento/fixação de folhas e ausência de rubricas".
A empresa que fez o laudo já teve trabalhos contestados, como no uso de um vídeo para acusar o padre Julio Lancelotti de pedofilia e na discussão se a apresentadora Ana Hickmann assinou documentos que geraram uma dívida na casa de R$ 1 milhão.
A CBF disse que o laudo "está sendo utilizado de forma midiática e precipitada, em verdadeira espetacularização que atende a interesses nada republicanos e aparentemente questionado por terceiros absolutamente estranhos ao processo".
COMO GILMAR MENDES VIU ISSO
A análise sobre o Coronel foi toda juntada aos autos no STF.
Ao negar o afastamento de Ednaldo Rodrigues nesta quarta-feira (07), Gilmar determinou que o TJ-RJ analise a questão das assinaturas. Até porque o acordo foi feito na Justiça do Rio e só levado a Brasília para homologação.
"Os documentos juntados trazem notícias e graves suspeitas de vícios de consentimento capazes de macular o negócio jurídico entabulado", reconheceu Gilmar.
Nessa mobilização que extrapolou o futebol, a CBF diz que "todos os atos relacionados ao acordo mencionado foram conduzidos dentro da legalidade e com a participação de representantes devidamente legitimados".
Mas o Coronel Nunes não apareceu até agora. Foi visto em um evento da CBF pela última vez em setembro de 2023: o 5 a 1 do Brasil sobre a Bolívia, no Mangueirão, em Belém. Estava de cadeira de rodas.
Inevitavelmente, vai precisar se manifestar sobre a própria assinatura agora que a Justiça do Rio recebeu a missão de averiguar a situação.
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