Justiça Eleitoral cassa mandato de vereador de Rondonópolis, por ter tido apoio de facção

O juiz da 10ª Zona Eleitoral de Rondonópolis, Francisco Rogério Barros, cassou na noite desta terça-feira (13) o mandato do vereador Ary da Costa Campos (PT) por captação ilícita de votos e abuso de poder econômico, com apoio de uma facção criminosa.
A decisão atendeu a pedido do Ministério Público Eleitoral (MPE), que apresentou robustas provas de que o então candidato utilizou apoio de presos da Penitenciária Major Eldo de Sá Corrêa, conhecida como Mata Grande, para pressionar, ameaçar e coagir eleitores, com o objetivo de garantir votos.
Campanha sob influência da facção
Durante a campanha eleitoral, Ary chegou a ser alvo da Operação Infiltrados, deflagrada pela Polícia Civil em setembro do ano passado. Mesmo usando tornozeleira eletrônica e com restrição de horários, o advogado foi eleito como o sexto mais votado do município, com 1.960 votos. Agora, deverá ser substituído pelo suplente Girotto (PT).
De acordo com a denúncia, conversas extraídas de celulares desbloqueados de presos mostraram que a organização criminosa exigiu de seus membros que cada um angariasse quatro eleitores para votar no então candidato, sob ameaça de retaliações. Dois dos envolvidos confessaram que receberam R$ 720 para votar em Ary Campos.
Estrutura do crime organizada para as eleições
O MPE também sustentou que a Associação dos Familiares e Amigos dos Recuperandos de Rondonópolis (Afar), presidida por Ary Campos, era umbilicalmente ligada ao crime organizado e recebia financiamento direto do Comando Vermelho. As investigações apontam que a própria candidatura foi resultado de uma decisão coletiva dos integrantes da facção, visando infiltrar representantes no poder político local.
Ainda segundo o órgão ministerial, reuniões de campanha teriam sido financiadas com dinheiro de lojistas extorquidos pela facção, por meio da chamada “taxa de segurança”, prática já conhecida em regiões com forte presença de facções criminosas.
Juiz aponta grave abalo à democracia
Ao proferir a sentença, o juiz Francisco Rogério Barros foi categórico:
“É indiscutível o poder econômico das organizações criminosas, as quais usam dele para intimidar a população, coagir seus próprios integrantes, exercer controle sobre territórios e manipular eleições.”
Para o magistrado, a presença da facção nas eleições comprometeu a lisura do processo eleitoral e gerou desequilíbrio entre os candidatos:
“A influência do Comando Vermelho ofuscou a democracia, maculou a normalidade da disputa eleitoral e impactou diretamente a liberdade do voto”, escreveu.
Inelegível por 8 anos e multa
Além da cassação imediata do mandato, a Justiça Eleitoral também declarou Ary Campos inelegível por oito anos, a partir de 2024, e impôs multa de 10 mil UFIRs.
A decisão representa um duro golpe contra a infiltração de estruturas criminosas no sistema político de Rondonópolis, mas também levanta um alerta para as próximas eleições, especialmente em municípios onde o crime organizado tenta se articular com candidaturas populares.
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